A precariedade dos servicos de saneamento basico no Brasil tem causado serios danos ambientais e sociais, devido a poluicao dos rios, corregos e demais massas de agua, superficiais e subterrâneas e a disseminacao de doencas de veiculacao hidrica. Desde a decada de 1990, o Pais vem investindo esforcos economicos e institucionais para mudar essa realidade: os programas de recuperacao de bacias hidrograficas, financiados por organismos internacionais; a Politica Nacional de Saneamento Basico; o Programa de Aceleracao do Crescimento (PAC). Apesar disso, poucas melhorias puderam ser observadas nas condicoes ambientais das cidades. O presente trabalho tem por objetivo discutir porque o Brasil nao consegue avancar no sentido da universalizacao do saneamento, adotando como recorte de pesquisa os servicos de esgotamento sanitario, que compreendem a maior parte do deficit de saneamento e causam as piores consequencias para o meio ambiente. Considerando-se que o deficit do esgotamento sanitario se concentra nos assentamentos precarios urbanos, defende-se a tese de que a universalizacao do saneamento nao e possivel de ser atingida devido ao fato do deficit ser tratado somente por sua dimensao economica, em um modelo empresarial que nao dialoga com as distintas dimensoes socioambientais do mesmo. Esse modelo reduz o problema a necessidade de padronizacao dos servicos, visando minimizar os custos e maximizar lucros, excluindo assim os territorios em que tais solucoes nao sejam aplicaveis, assim como os grupos sociais que nao podem pagar por isso. Utilizando como metodo a pesquisa de dados secundarios como os planos municipais de saneamento e habitacao, planos diretores e literatura academica sobre estes temas, buscou-se tambem descrever um conceito de universalizacao de saneamento em assentamentos precarios, considerando os aspectos sociais, de moradia, de uso e ocupacao do solo e ambientais que interagem com o problema. Foram feitos estudos de caso em tres cidades brasileiras: Belem/PA, Recife/PE e Campinas/SP, para discutir a abordagem proposta; e um estudo de caso na cidade de Medellin, na Colombia, que implementou o Programa Unidos por el Agua para universalizar os servicos de agua e esgoto em assentamentos precarios urbanos. Como conclusao, verifica-se que nao so o setor de saneamento deve se submeter a uma mudanca de paradigma sobre o conceito de cidade, mas a propria atividade de planejamento urbano, a fim de incluir os assentamentos precarios como parte integrante da cidade e sua populacao como agentes ativos de transformacao da propria realidade.