O termo “Urbanismo Social” como intervencao urbana surgiu em 2003 no programa de governo de Sergio Fajardo para concorrer a prefeitura de Medellin, Colombia. Os projetos arquitetonicos e urbanisticos voltados aos assentamentos precarios impactaram tanto o espaco urbano como a sociedade de Medellin e tornaram-se mundialmente conhecidos, mesmo sob tensoes, disputas e contradicoes territoriais (MONTOYA, 2014). Alejandro Echeverri, chamado por Fajardo para dirigir a Empresa de Desenvolvimento Urbano (2004- 2007), afirmou que o principal resultado do “Urbanismo Social” foi ampliar o mapa mental da cidade em seus cidadaos (ECHEVERRI, 2017). O termo reconhece as periferias como parte da cidade, contudo, e contraditorio ao se apoiar no marketing urbano e fomentar a atracao turistica em detrimento da acao social transformadora (BRAND, 2010; VELASQUEZ, 2013). Na decada de 1990 as favelas e loteamentos irregulares brasileiros tambem eram ausentes na maioria dos mapas oficiais. Foi um “avanco” ou “deslocamento da correlacao de forcas” o reconhecimento desta situacao urbanistica e social extremamente desigual, demandando. respostas como politicas publicas inclusivas. O reconhecimento desta situacao acarreta diferentes posturas e interpretacoes sobre os processos que originam as desigualdades. O “urbanismo social” passa a ser objeto de disputas de diferentes visoes de mundo ao ser apropriado por interesses diversos: economico, social, politico, cultural (BOURDIEU, 1996) e de direitos (MONTOYA, 2014). A facao governamental em Medellin deixou marcas inequivocas no espaco urbano, transformando de fato sua qualidade urbanistica, sem ampliar o acesso a cidade (nos termos de Lefebvre), ja que seus moradores nem sempre tornam-se cidadaos (SANTOS, 1998) mais engajados politicamente ou com maior autonomia (SOUZA, 2001). Em todas as cidades latino-americanas, o processo que torna o solo urbano e integrado ao mercado fundiario e excludente. Um grande contingente populacional tem acesso as porcoes de terra menos aptas a ocupacao urbana. E neste territorio complexo que se desvela a construcao da “cidade popular”: autoconstruida, do espaco individual ate as precarias infraestruturas primeiramente instaladas. O dialogo entre o poder publico e os moradores nem sempre e pacifico, mas antes conflituoso, variando entre a tolerância e oportunismo de funcionarios publicos, ate acoes mais violentas de remocao e expulsao. Esta zona cinzenta, de territorios quase urbanos (de fato, mas nao de direito) e fertil para o desenvolvimento de grupos e organizacoes de base reivindicatorios, que ampliam o “capital politico” de seus participantes (HOLSTON, 2009). Entao, o que nasce como uma disputa pelo direito ao lugar ou a necessidades vitais como moradia e saneamento, torna-se um caminho emancipatorio e de transformacao individual (FURIGO et al, 2020). Assim como a Reforma Urbana no Brasil, tais reivindicacoes sao base para a formulacao de politicas publicas de urbanizacao e legalizacao destes territorios (CALDEIRA, 2016; ANTONUCCI et al., 2017). A partir do tema da “limiaridade”, a presente sessao discutira o paradoxo entre as acoes de base e as governamentais; as contradicoes entre o processo de construcao e defesa da cidade popular e os projetos urbanos para areas precarias. Enquanto as primeiras empoderam e emancipam seus participantes, as acoes governamentais, mesmo impulsionadas por lutas urbanas previas, acabam nao raro dificultando a permanencia de muitos pobres nestas localizacoes, que se valorizam. Os deslocados constroem novas periferias, num continuo que mantem na pobreza parcelas consideraveis da populacao urbana. Os alcances, tensoes, contradicoes e limites das politicas publicas habitacionais tradicionais, no que tange a moradia digna, o espaco publico e o acesso a cidadania, sao temas desta sessao. E as acoes, lutas e propostas de inclusao, resistencia, defesa do territorio e dos direitos, especialmente aquelas protagonizadas pela populacao e suas organizacoes, muitas vezes criativas e radicais, mas tambem atacadas e criminalizadas, serao objeto de debate. A sessao e fruto de uma parceria entre os grupos de pesquisa: “Politicas Territoriais e a Agua no Meio Urbano”, da Pontificia Universidade Catolica de Campinas – Brasil, e “Medio Ambiente y Sociedad”, da Universidade de Antioquia – Colombia. Inclui a participacao de docentes e pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro, do Centro Universitario INTA, das Faculdades Integradas Maria Imaculada e da prefeitura de Medellin – Colombia.