A criatividade é geralmente retratada como um fator X responsável pela geração espontânea do absolutamente novo. No entanto, a obsessão pela novidade implica uma atenção aos produtos finais e uma atribuição retrospectiva das suas formas a ideias sem precedentes na mente dos indivíduos, ignorando os potenciais geradores de forma das relações e processos em que as pessoas e coisas surgem e se desenvolvem. Nesses processos, espera-se tipicamente que o aprendiz copie as obras dos grandes mestres do passado. No entanto, mesmo seguindo um roteiro ou uma partitura, cada praticante tem de improvisar o seu próprio caminho através do conjunto de tarefas que a performance implica. Com exemplos da música, da caligrafia e da confecção de rendas, mostro que a fontes da criatividade não está na cabeça das pessoas, mas em seu envolvimento em um mundo em formação. Nesse tipo de criatividade, mais vivenciada que realizada, a imaginação não é tanto a capacidade de apresentar novas ideias, mas o impulso aspiracional de uma vida que não apenas se vive, mas se conduz. Para onde ela é conduzida, no entanto, não é dado de antemão. Abrindo-se ao desconhecido – se expondo – a imaginação conduz não pela maestria, mas pela submissão. Assim, a criatividade do vivenciar, da ação sem agência, é a criatividade da própria vida. Tradução: Beto Vianna Submissão: 15 mai. 2024 ⊶ Aceite: 3 jun. 2024