A proposição cosmopolítica se coloca como grande desafio: enxergar o mundo como único mas não unívoco, aceitar um mundo com muitos mundos. A América Latina é lócus de inúmeras subjetividades sobre Gaia, que se distanciam da visão da natureza como um recurso ou um “bem comum a todos”, uma tônica muito presente na cosmologia/projeto moderno. A Economia Verde, concebida como continuidade renovada da economia capitalista, funciona como uma forma de economia espelho: é justamente a contaminação e a escassez dos recursos que geram valor aos novos “ativos ambientais” impulsionando a narrativa do desenvolvimento. Este movimento caracteriza-se também pela produção da indiferença, a codificação paranoica em normas, categorias e números, assim como por diversas operações de abstração que pretendem racionalizar o mundo a partir de lógicas empresariais. “Pensar em deslocar o que antes era uma narrativa de desenvolvimento para uma narrativa de sobrevivência implica que nós, como pesquisadores, como cientistas, como terranos, não podemos mais contar as mesmas histórias” (LATOUR, 2020). O objetivo desse ensaio é pensar em alianças na transição para um sistema de geração em um mundo finito do Antropoceno, em que seres humanos e não-humanos estão emaranhados de forma interdependente.