O artigo discute a relação entre a COVID-19 e os distúrbios olfativos, destacando os mecanismos fisiopatológicos subjacentes a essa associação. O SARS-CoV-2, vírus responsável pela COVID-19, tem em sua estrutura a proteína de espícula, que se liga ao receptor ACE2 nas células hospedeiras, facilitando a entrada do vírus. Comparado ao SARS-CoV original, o SARS-CoV-2 possui maior afinidade com o receptor ACE2, devido a alterações em hotspots virais específicos. No sistema olfatório humano, as moléculas odoríferas são detectadas pelos neurônios receptores olfativos (ORN) no epitélio nasal, com a contribuição de células não neuronais, como células sustentaculares e de Bowman. Estudos recentes associaram a perda do olfato à COVID-19, com evidências de que o vírus pode afetar o epitélio olfatório, levando à anosmia e hiposmia. A pesquisa revisou 657 artigos, dos quais 18 foram incluídos na análise. A maioria dos estudos foi realizada na Europa e na Ásia, abordando desde o mecanismo de entrada do vírus até os mecanismos fisiopatológicos associados à anosmia. O dano ao epitélio olfatório parece ser o principal mecanismo por trás dos distúrbios olfativos causados pela COVID-19, com uma preferência do vírus por células não neuronais. Fatores epidemiológicos, como idade e estilo de vida, também influenciam a prevalência dos distúrbios olfativos, com estudos sugerindo uma correlação entre a expressão do receptor ACE2 e a idade, além de uma maior probabilidade de desenvolver distúrbios olfativos em fumantes e mulheres. As mutações genéticas do SARS-CoV-2 também contribuem para diferentes prevalências de anosmia, com a variante G614 associada a uma maior incidência de anosmia e a uma maior transmissibilidade. Em conclusão, a COVID-19 pode desencadear distúrbios olfativos devido ao dano ao epitélio olfatório, com uma preferência por afetar células não neuronais. A compreensão desses mecanismos é crucial para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas e preventivas.