Propomos explorar o nexo entre testemunho, autobiografia e literatura, bem como a indistinção que existe entre a história testemunhal ou a ficção poética. Nesta linha de investigação, é útil referir-se a Demeure, Maurice Blanchot, escrito em que Jacques Derrida comenta o texto O instante de minha morte, para mostrar que uma distinção completa entre o registro da história, o da autobiografia e o do testemunho. Já a escrita de Blanchot mostra que a atestação tem uma relação complicada com a ficção, pois seus limites estão contaminados e que há uma indecidibilidade entre o autobiográfico e o heterotanatográfico, entre a linguagem performativa e a linguagem constativa, uma vez que recorrem à procedimentos comuns como a narração, a promessa de ter credibilidade, de poder se repetir; por sua vez, são discursos em “primeira pessoa” que falam de uma experiência ou de si próprios. Consequentemente, o sujeito que é narrado, a voz que enuncia é um efeito que é produzido pela própria narração ou atestado.