Este artigo tem por objetivo discutir a circulação de ideias sobre os saberes e as práticas da pesca realizada com um cipó, denominado “timbó”, e a relação com o ensino de ciências nas escolas indígenas brasileiras, propondo dois coletivos de pensamento, o da ciência ocidental e o da cultura do povo indígena Bakairi. O conceito de coletivo de pensamento parte da epistemologia de Ludwik Fleck (1986), que propõe a categoria de estilo de pensamento, pertencente a um coletivo de pensamento, como meio de compreender a circulação de ideias. Considera-se, aqui, a contribuição dessa epistemologia na compreensão do diálogo entre os diferentes conhecimentos, portanto, entre os estilos de pensamento dos coletivos da ciência e o da cultura dos sujeitos Bakairi. Os dados foram coletados, por meio de entrevista, junto aos Bakairi moradores da aldeia Aturua, localizada no município de Paranatinga, estado de Mato Grosso, Brasil. Esses dados possibilitaram a ampliação da compreensão do encontro de saberes (tradicionais Kurâ-Bakairi e da ciência ocidental) expressos por meio de diferentes linguagens (a linguagem cotidiana e a linguagem científica) que caracterizam esses coletivos no ensino de ciências. Foi possível estabelecer relações sobre o encontro desses coletivos de pensamento no ambiente escolar e o entendimento de que os sujeitos podem pertencer a diferentes coletivos. Destarte, os conhecimentos provenientes desses dois coletivos devem ser compreendidos de modo que o diálogo entre eles possa propiciar o surgimento de outro coletivo de pensamento característico do ensino de ciências nas escolas indígenas.