Este ensaio apresenta os resultados parciais da investigação sobre uma modalidade peculiar de biblioteca implantada em distintas províncias do império brasileiro entre os anos 70 e 80 do século XIX: as bibliotecas populares. Apresentando uma lógica e estratégia distinta de outros modelos biblioteconômicos, sua emergência esteve pautada em ações que mesclavam o paternalismo das elites e aquele traço denominado por Armando Petrucci de “filantropia do saber”. Não raro, sua ascensão esteve articulada com a atuação dos clubes republicanos e abolicionistas, tendo se verificado também sua difusão por meio de lojas maçônicas. Com base em uma documentação variada (discursos de fundacionais e celebrativos, relatórios e artigos publicados na imprensa) procuro traçar uma cartografia destas bases institucionais da leitura, explorar os discursos prescritivos sobre os objetivos e destinatários, compreender a sua organização interna e funcionamento. Por fim, exploro as tensões entre o projeto laico de proporcionar às classes populares o acesso à cultura impressa, sobretudo do livro didático e formativo, a crença na função moralizante da leitura, e as práticas efetivas destes leitores que demonstravam uma predileção pelo gênero romance.