O objetivo deste artigo é examinar as afecções – os efeitos nos corpos em relação – mobilizadas pelos karitiana para compreenderem seus parentes "especiais" (osikirip). A formulação do grupo justifica a existência dos últimos pelo enfraquecimento de seus corpos, em resultado da adesão à comida não indígena. O consumo cotidiano desses alimentos (arroz, feijão, macarrão, charque, carne congelada, óleo, sal, café, açúcar, biscoitos e doces) deve ser entendido como um processo de familiarização, pelo qual os karitiana propõem aos não indígenas serem por eles adotados e, assim, protegidos de sua força predadora. O nexo com os não indígenas, por outro lado, permite que o grupo pleiteie tratamentos médicos e benefícios sociais específicos aos "especiais", mesmo que as explicações para sua existência sejam discrepantes das oficiais.