Realizar uma etnografia dos mapas, por meio de uma reflexão crítica sobre um processo de etnomapeamento realizado junto ao povo Potiguara (PB) configura o objetivo principal do presente artigo. Tal etnomapeamento foi proposto pela Fundação Nacional do Índio (Funai) como forma de identificar e descrever conflitos envolvendo a prática da carcinicultura e do cultivo de cana-de-açúcar bem como a sobreposição entre uma unidade de conservação, terras e territórios indígenas em questão. Buscamos, ao nos inscrever no processo construir espaços relacionais calcados na etnografia e em técnicas de mapeamento participativo mescladas ao uso de geotecnologias. Argumentamos que os mapas , mesmo não correspondendo às formas de mapear de povos indígenas, quando construídos com respeito e simetria em relação às práticas inseridas nos sistemas de conhecimento do outro, podem configurar poderosas estratégias para o diálogo intercultural, em geral assimétrico. Apontamos também para o fato de que , assim como outros mapas produzidos na região, o processo do etnomapeamento foi re-orientado pelos Potiguara, para fins, principalmente de luta territorial - um processo de "cartografofagia" - onde as técnicas planejadas de "cima", pelo órgão indigenista foram digeridas e tratadas como "mapas indígenas".