Não obstante o relativo avanço, em termos legais e políticos, na defesa dos princípios de equidade de relações de género, recentes estudos a nível nacional e internacional confirmam as persistentes desigualdades de género em diversos contextos (ambientes laborais, interações quotidianas, valores e regulações simbólicas, enquadramentos institucionais).Neste artigo, após uma revisão, em forma sintética e crítica, de alguns paradigmas teóricos que procuram explicar as desigualdades de género (concepções socio- biológicas, psicológicas, em especial psicanalíticas, estruturo-funcionalistas, marxista e weberianas), o autor propõe uma articulação entre os conceitos de género e classe. Tal implica a convergência do modelo marxista com o feminista e, indirectamente, um cruzamento frutífero entre o posicionamento (neo)marxista e weberiano, sendo este último articulável com a perspectiva interaccionista simbólica. Segue-se uma breve retrospectiva histórica e a correlativa desconstrução das formas essencialistas, reificadoras e legitimadores do statu quo.Por fim, com uma breve ilustração sobre algumas desigualdades de género em Portugal, esboça-se a hipótese de que, para além dos interesses inerentes aos mecanismos macro-económicos e institucionais de dominação, o controlo da força de trabalho feminina e os subsequentes fenómenos de segregação sócio-espacial e discriminação laboral reproduzem-se a diversos níveis: sócio-estrutural, organizacional e interaccional. A nível micro e meso, o poder da mulher varia em função de vários factores: recursos e recompensas, participação no processo produtivo, presença de uma hierarquia de papéis sexuais na divisão do trabalho, lugar ocupado na organização/instituição, lugar na reprodução da esfera familiar e nas interacções e negociações de papéis.